terça-feira, 20 de outubro de 2009

Vale a Pena Ler!!

Peço licensa ao sempre competente Ednaldo Vince, do AN Futebol, para compartilhar este texto com vcs, que é um dos mais bonitos que já tive o prazer de ler, e que ainda por cima usa meu amado Palestra como exemplo.

Confesso que a lágrima rolou, espero que gostem tb....

Em nome do Pai, agora sou Palmeirense (Texto de Luis Carlos Quartarolo)


Hoje tive folga na Jovem Pan. Nem tanto aqui no Blog.
Aproveitei e dei uma esticada até Piracicaba.Fui ver meus pais. Pelo menos uma vez por mês eu tento dar uma passadinha por lá. É perto.Da porta da meu apartamento a casa deles não dá mais que hora e meia com trânsito bom.A estrada é boa. A Rodovia dos Bandeirantes é de primeiro Mundo.
Fui chegando e o Seu Aléssio já queria saber.“O que aconteceu com meu time ontem?”“E, pai, quase vocês perderam. Tem que agradecer pelo empate que não foi de todo ruim”Como já deu para notar, o meu pai é palmeirense.
Desculpem, palmeirense não. Ele, com os seus quase 81 anos, é ”parmerista”, que é como se chamava o torcedor do Verdão antigamente lá no interior do estado.A alegria do meu pai hoje em dia é ouvir jogo no rádio e jogo do “Parmera”.Sempre gostou. Acha que dá mais emoção.
Na década de 70 quando o Palmeiras jogava fora da capital e as emissoras daqui não transmitiam o jogo, ele ficava desde o sábado a tarde procurando uma rádio na cidade onde o time ia jogar para ouvir no domingo.Foi assim que descobri a Rádio Gaúcha e pela primeira vez ouvi falar de Valdomiro, Claudiomiro, Dorinho e outros.Também descobri a Rádio Inconfidência, em Belo Horizonte, a Clube de Pernambuco, a Clube de Curitiba e tantas outras.
Ele sintonizava essas emissoras por causa do Palmeiras.
Era época das ondas curtas com muito chiado e som desaparecendo no meio do grito de gol.Isso também explica porque o filho dele acabou como repórter-jornalista e principalmente radialista.É por isso que eu às vezes escrevo textos longos. Eu falo muito. Falo em laudas.
É um defeito dos homens do rádio. Mas a verdade é que o meu velho está feliz com o seu “Parmera”. É a fase.Só não gosta muito dessa variedade de cores que os novos uniformes trazem.
Para ele o “Parmera” verdadeiro é aquele com a camisa do Ademir da Guia, a camisa esmeraldina.E nem adianta explicar que é a nova moda, que o mercado precisa disso. Tempo perdido.No meu caso, tempo ganho. É bom ficar perto dele.Meu pai sofre de Parkinson, uma doença incurável, que definha o ser humano física e psicologicamente.
Treme o dia inteiro e fica pior quando fica triste ou quando está eufórico.
São os dois extremos da vida.
Só sossega quando vai para a cama. Mas para chegar lá precisa ser ajudado.Minha mãe diz que o parkinsoniano não apresenta nenhum tremor quando está dormindo.É tão calmo quanto qualquer ser humano sadio. Mas é só acordar e tudo acorda junto.Quando vou visita-lo não aviso. Se ele souber que eu ou outro filho está indo, fica na expectativa e piora o quadro.Quando vou embora me levanto e saio também sem muita cerimônia.
Dou-lhe um beijo no rosto e digo que volto em poucos dias.Senão ele fica triste e também sofre.Hoje especialmente ele queria falar do Verdão.Não sabe o nome de todos os jogadores. Alguns para ele são impronunciáveis.
As palavras se embaralham e os nomes viram apelidos “gozados”.Ele sorri e eu também. Acerta o nome do grande Marcos de primeira. Muricy é mais difícil de sair.Ramalho não tem tanta dificuldade, mas ele não pronuncia o agá. Vira Ramalo.
“Aquele número 7 joga bem”.Está falando de Diego Souza.“Mas se é meio-campo porque joga com a 7?”“Não se preocupe, pai. Agora o número tem pouca importância. Pode ficar tranquilo. Ele não é ponta, é meia mesmo”“Ah, tem aquele outro menino que joga com a camisa do Da Guia?”
Só pode ser o Cleiton Xavier.Ele diz que o 10 do Palmeiras tem que bater bem na bola e fazer gols.“Pode deixar. Vou avisa-lo a próxima vez que encontra-lo”
Mas reconhece, é bom jogador.“Eu também acho, pai”
Quando me levanto para ir embora, ele vem até o carro e faz um alerta.“O Parmera tem que ser campeão este ano. No ano que vem será mais difícil”
Não sei no que ele se baseou para me dizer isso, mas falou com ar muito sério entre um tremor e outro.
“O sr. acha mesmo?”
“Acho. É que você é contra o Parmera. O meu time parava o seu com Pelé e tudo”Olhei para ele. “Pai, vamos fazer o seguinte. Vou torcer pelo seu time já que o meu não vai ganhar nada este ano. Mas só até dezembro, viu”Agora sou palmeirense. Em nome do Pai.Espero que ele tenha acreditado.Ele precisa disso. As cortinas estão se fechando.

Um comentário:

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